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Pesquisadores de RO registram 4 novas espécies do grupo transmissor da leishmaniose

Agora, Estado contabiliza 135 espécies de insetos. Rondônia registrou mais de dois mil casos da doença em menos de três anos, segundo a Agevisa.

G1 RO

23/05/2019 13h34

Pesquisadores da Fiocruz Rondônia divulgaram o recente registro de quatro novas espécies que fazem parte de um grupo de insetos que pode transmitir a leishmaniose. A descoberta é considerada importante para os estudos do ciclo de transmissão da doença na região amazônica.

O trabalho, que durou dois anos, ocorreu em parceria do Laboratório de Entomologia com o Laboratório de Epidemiologia Genética, da Fiocruz Rondônia. Apesar de terem sido registradas em Rondônia, os primeiros encontros das espécies aconteceram em outros estados, como Mato Grosso, Acre e Amazonas.

Segundo o biólogo e entomólogo Antônio Marques, um dos membros do departamento de entomologia da fundação, tudo começou pela análise de cerca de 10 mil espécies de insetos até se chegar nos quatro novos.

"A gente utiliza a morfologia deles [insetos] para identificação. Há 280 espécies no país. Cada uma dessas espécies têm uma pequena variação em sua morfologia. E é isso que utilizamos, uma combinação de características morfológicas que permite a identificação das variadas espécies", explicou o pesquisador.

Conhecidas popularmente como "mosquito palha", as fêmeas de flebotomíneos são as responsáveis por transmitir os protozoários parasitas do gênero leishmania, causador da doença. A descoberta das novas espécies, agora, soma-se as outras 131 já registradas em Rondônia.

 

"Esses insetos estão relacionados ao ambiente de floresta. Então, o ser humano acaba pegando a leishmaniose acidentalmente, pois o homem aqui na região acaba culturalmente acessando ambientes de mata, seja para caça, para pesca, extração de minério e madeira ou para lazer mesmo e acaba entrando em contato com o vetor", afirmou Antônio.

 
Biólogo Antônio Marques, membro do grupo do Laboratório de Entomologia, da Friocruz RO.  — Foto: Mayara Subtil/G1Biólogo Antônio Marques, membro do grupo do Laboratório de Entomologia, da Friocruz RO.  — Foto: Mayara Subtil/G1

Biólogo Antônio Marques, membro do grupo do Laboratório de Entomologia, da Friocruz RO. — Foto: Mayara Subtil/G1

 

A transmissão

 

Antônio Marques explicou que, ao ser exposto ao ambiente de floresta, o ser humano pode levar uma picada do "mosquito palha", correndo o risco de ser infectado pelo parasita.

"A fêmea [do mosquito palha] vem atrás de uma fonte alimentar sanguínea a partir das 17h ou 18h. Se o inseto estiver em contato com o parasita, acaba transmitindo ao ser humano. Nisso, depois de uns 20 ou 30 dias, o ser humano acaba desenvolvendo a lesão", complementou o pesquisador.

Conforme o Programa Estadual de Leishmaniose em Rondônia, a doença perpassa pelos 52 municípios do estado, sendo a terceira enfermidade mais transmitida através de um vetor e, ao mesmo tempo, a segunda cuja causa é um protozoário.

Agora, a atualização do número de espécies acaba de ser publicada na revista periódica Brazilian Journal of Biology.

O estudo envolveu a coleta dos insetos em cinco regiões do estado. A ação, segundo a equipe de pesquisadores, é relevante para verificar quais espécies são potenciais transmissoras da doença. Isso porque algumas delas ainda não possuem registros de transmissão.

 
Coleta das novas espécies de insetos transmissores da leishmaniose ocorreu em cinco municípios de RO.  — Foto: Divulgação/Brazilian Journal of BiologyColeta das novas espécies de insetos transmissores da leishmaniose ocorreu em cinco municípios de RO.  — Foto: Divulgação/Brazilian Journal of Biology

Coleta das novas espécies de insetos transmissores da leishmaniose ocorreu em cinco municípios de RO. — Foto: Divulgação/Brazilian Journal of Biology

 

Leishmaniose em RO

 

Apesar de não haver a confirmação de transmissão da doença pelas novas espécies descobertas, os pesquisadores afirmam que o estudo é necessário para o desenvolvimento de novos trabalhos científicos que abordem a importância desses insetos no ciclo de transmissão da leishmaniose, bem como de outras doenças.

Do lado de fora, os dados apresentados pela Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) reforçam ainda mais a importância do trabalho.

Entre 2017 e 2018, foram registrados 2.175 casos de leishmaniose somente em Rondônia. Nos primeiros meses de 2019, a Agevisa já contabilizou 226 registros da doença no estado, o equivalente a cerca de 10% dos casos no últimos dois anos.

Ainda segundo o balanço da Agevisa, dez municípios concentram sozinhos 56% do número total de notificações no estado. São eles a capital Porto Velho e os municípios do interior como Ariquemes, Cacoal, Cujubim, Espigão do Oeste, Ji-Paraná, Machadinho do Oeste, Pimenta Bueno, Rolim de Moura e Vilhena.

 

Os pesquisadores descrevem o "mosquito palha" como um inseto muito menor que o mosquito convencional em si (que mede cerca de 10 milímetros), variando de um a cinco milímetros de tamanho.

 
Pesquisa de descoberta das quatro novas espécies pela Fiocruz RO demorou dois anos.  — Foto: Mayara Subtil/G1Pesquisa de descoberta das quatro novas espécies pela Fiocruz RO demorou dois anos.  — Foto: Mayara Subtil/G1

Pesquisa de descoberta das quatro novas espécies pela Fiocruz RO demorou dois anos. — Foto: Mayara Subtil/G1

 

Tratamento

 

Atualmente, o Ministério da Saúde (MS) classifica a leishmaniose em dois tipos. A Tegumentar Americana pode apresentar as formas clínicas cutânea e mucocutânea e inclui sintomas como úlceras na pele e mucosas. Já o paciente acometido pela Visceral pode apresentar febre de longa duração, perda de peso, anemia, aumento do fígado e baço, entre outros sintomas.

Segundo o MS, o tipo Tegumentar é responsável por cerca de 21 mil casos anuais no país. Já o tipo Visceral tem, em média, 3,5 notificações a cada ano. Nos dois casos, o tratamento é feito com uso de medicamentos específicos.

A Fiocruz lembra que o tratamento da leishmaniose em Rondônia é encabeçado pelo Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron), responsável pela distribuição dos medicamentos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) – o único tratamento eficaz conta com doses diárias de vacina.

Dependendo da gravidade do caso e do ferimento, o tratamento pode durar de um a seis meses.

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